NEGOCIAÇÃO, Eduardo Haak

Eu amo Patrícia, gosto de andar de mãos dadas com ela, de passear, de ouvir música junto, por sorte temos o mesmo gosto musical. Mas Patrícia é afoita e descoordenada quando me chupa, parece alguém que não canta tentando cantar num karaokê caseiro uma música que conhece mal. Já Odete, que eu não amo tanto, é uma boqueteira nata, quando ela enfia meu pau na boca me sinto como se estivesse esquiando numa rampa de gelo a mais de cem quilômetros por hora.

 

Eu tenho tempo, dinheiro e capacidade fisiológica para me envolver com quantas mulheres quiser. Nunca me senti acossado por dilemas éticos ou pelo ciúme feminino, já namorei mulheres que se diziam temperamentais, já namorei até uma garota punk que usava no pescoço a miniatura de um alicate de castração. Por sorte as mulheres sempre me deram tudo o que eu quis delas e me pouparam daquilo que não quis.

 

Claro que às vezes há negociações, como agora, a Tereza, uma gerente de recursos humanos que um amigo me apresentou, ela me diz, o.k., vou te chupar, mas você vai ter que realizar uma fantasia minha. Pergunto que fantasia, ela diz que só conta no prédio dela. Chegamos lá e em vez de pararmos em seu andar ela me leva direto ao terraço no último andar. Vejo uma espécie de guindaste em que estão presas duas cordas, Tereza diz que as paredes externas do prédio estão sendo restauradas, que em várias partes as pastilhas caíram, agora você vai se sentar numa dessas cadeirinhas aí que os restauradores usam para trabalhar, eu desço você até o meu andar, aí vou até lá, abro minha janela e, onomatopeia de sucção. Que tal?

 

Amarro-me na cadeira e Tereza empurra uma alavanca que vai aos poucos me fazendo descer. Aceno um positivo quando chego ao décimo quinto. Não tenho medo de altura, já cheguei a saltar de paraquedas algumas vezes, mas a sensação de estar sentado numa tabuinha a quarenta metros do chão é meio aflitiva. Passam-se alguns minutos, a luz do quarto dela se acende, Tereza sorri e me manda um beijo. Abre um armário e começa a se despir, depois põe uma camisola e vem andando, provocativa, até a janela. Então ela faz um gesto de que está com sono e vai dormir. Fecha a cortina, cerra a persiana e apaga a luz. Sou deixado ali, suspenso, imobilizado, sem saber como aquelas cordas todas funcionam, sem opção exceto a de me manter agarrado a elas.



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APARTAMENTOS, um livro de Eduardo Haak

apartamentos (contos, ficção curta) eduardo haak, 2018 (Para navegar pelo livro, use as setas do canto superior esquerdo.)