Meu pai pergunta, como ela é?, respondo, linda, parece aquelas mulheres do Guido Crepax.
Venham para cá, então.
Saímos do bar e vamos para o prédio dele.
No elevador reparo que a garota é realmente bonita. É raro garota de programa realmente bonita, aliás, mulheres realmente bonitas são raras de qualquer forma.
Pego o troco do estacionamento e guardo na carteira. As notas agora têm tamanhos diferentes, vai ficar mais difícil para os cegos serem tapeados.
Entramos no apartamento e meu pai age com naturalidade, diz para ela se servir da bebida que quiser, pergunta se ela gosta de jazz, se não quer que troque a música, etc.
Conversamos um pouco e vamos para o quarto, os três, ele faz questão. No começo isso me incomodava, mas me habituei.
Sento-me em frente à cama, numa cadeira barcelona Knoll, resto de seu extinto ateliê, e acendo um cigarro.
A garota coloca camisinha no meu pai. Sua ereção, inabalável, é artificial como o corante azul colocado no Viagra.
À visão do corpo da garota, belo e teso como o de uma égua puro-sangue, penso se não é um desperdício sempre trazer mulheres assim para ele.
Isso, porém, me faz sentir culpa, como se me percebesse tentado a dar troco a menos para um cego.
.